quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A gente

Nós não costumávamos falar bonito, mas amávamos poesia. Nós éramos fruto dado do asfalto. Nós falávamos “a gente”. A gente não costumava se importar com a tonelada de ar do mundo. A gente engolia pessoas. A gente bebia até as três da madrugada e achava pouco ainda, tirava fotos e escolhia as mais bonitas para guardar na gaveta do peito.
A gente andava até quilômetro pra chegar a alguma festa. A gente queria ver gente. A gente queria esquecer. A gente deitava no terror da manhã cinzenta, a mulher chorava, a gente lia gibi meio que para disfarçar e escutava Pedro The Lion. A gente queria passar de europeizado, culto, diferente. A gente comia mesmo era ovo mexido e tomava café pingado. Assumia: a gente gostava mesmo era de canções tristes mesmo negando por tantas horas. Alguns, da gente, se tocaram que bebiam não por gostar, mas para engolir o mundo.
A gente acordava meio torto ainda e, ao ver que ainda era manhã bem cedinho, xingava para si um grito rascante à décima terceira e à décima quarta constelações do zodíaco que pariram a figura da gente e que despertaram o nosso corpo, calor do inferno. A gente queria era morrer às vezes, só para quebrar a rotina.

Pedro Y.

4 comentários:

coffeeandroll disse...

.às vezes é bom morrer, só pra quebrar a rotina.



abraço meu caro.

mandii. disse...

tenho tanta vontade de quebrar a rotina todos os dias ._.'
morrer,só pra depois renascer e ver os cacos de si mesmo no chão.
é...é a vida.

Pedro Guimarães disse...

gente é assim.

v disse...

"Eu tenho tantas mortes de perfil
que por isso não morro,
sou incapaz de fazê-lo"


(Neruda)