terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Poema 62 (ou Diablo)

O Diabo levou de todas as coisas
Levou meus papéis alumínio do forno
Meus livros de Shakespeare, meu leite
O Demônio retirou-se ao amanhecer
E retornou à noite de Seu inferno.
No anoitecer terreno Ele voltou
Levou, desta vez, algumas bonecas da infante ao meu lado
Levou meus casacos pretos e os beges
E uns anos da infância desfocada.
Depois da cena repetir-se por dias,
De Ele levar até meus estojos velhos,
Cordas velhas de barcos
(que nunca velejei),
Amores e desenganos,
Roupas antigas, acalantos, sangue
Mosquitos, rutilância, sofás e escovas
Ele me levou a única coisa que restara:
A (mera) ilusão minha de que O Diabo não era eu!